O sabonete Cacau de Ilhéus, que participará do III Festival do Chocolate da Bahia, nasceu a partir de uma viagem que fiz àquela região, no começo desse ano, para conhecer de perto o processo de produção do cacau, um produto muito especial.
O cacau, antes de virar chocolate, passa por várias estapas. Do fruto, é extraída a amêndoa, que a polpa envolve. É necessário secá-la ao sol durante vários dias para ocorrer a fermentação e depois ela é torrada. Essa amêndoa fermentada e torrada passa por uma máquina que a transforma em uma pasta. Essa pasta é chamada de líquor (não confundir com licor). Também é conhecida como massa de cacau.
esse é o líquor de cacau
À primeira vista, parece um tabletão de chocolate meio amargo (ele está feinho na foto, porque durante o transporte algumas partes derreteram um pouco e ficou meio amassado). Mas se você morder um pedacinho desse líquor, não vai gostar nem um pouco. É muuuuito amargo! É cacau puro, sem açúcar, sem leite, sem baunilha e outros aditivos que costuma compor um chocolate.
Mas ele é o melhor estado possível para se usar na produção de sabonetes, pois ainda contem toda a sua gordura (manteiga de cacau), que na fábrica de chocolates é retirada e readicionada depois em quantidades variadas dependendo da qualidade do chocolate. Quanto mais nobre o chocolate, mais manteiga de cacau. Os de qualidade muito baixa, ela é substituída por gordura vegetal hidrogenada, uma coisa bem horrorosa 😀 (Especialistas de chocolate, me avisem se eu estiver falando alguma besteira!)
Bom, então foi assim que fiz o sabonete. Esse líquor foi derretido em banho-maria.
O óleo que escolhi para compor esse sabonete foi o de castanha-do-pará. Chocolate e castanha combinam, não? Além do mais, o óleo de castanha-do-pará é meio que o nosso (brasileiro) óleo de amêndoa doce, super nobre e muito benéfico para a pele. O sabonete que se faz com esse óleo é incrível, é muito suave e a sua espuma é sedosa e abundante.
Entrou também o óleo de rícino, um ingrediente bastante útil na produção de sabonetes, pois ele tem uma característica única de atrair a umidade para si e produz uma espuma muito cremosa. Entram também os habituais óleos de palma e palmiste, é claro.
Aqui na foto de cima são os óleos sendo saponificados. O cacau ainda não entrou. Ele entra no finalzinho do processo, depois do trace.
Rapidamente a cor da massa se transforma em chocolate quase amargo, de tão escuro!
Depois de muita hesitação, resolvi fazer este sabonete sem nenhuma adição de óleo essencial ou outro tipo de fragrância. Queria ver como ficava o aroma natural do próprio cacau.
Produção: 22/05/2011
Liberado para uso: 20/06/2011
Ingredientes
- óleo de castanha-do-pará orgânico
- óleo de rícino
- óleo de palmiste orgânico
- óleo de palma orgânico & kosher
- água desmineralizada
- NaOH
- líquor de cacau
- oleoresina de alecrim
Ficou bem com aroma de cacau, mesmo!
Como esse foi um teste, a quantidade produzida foi muito pequena e foi toda para o Festival do Chocolate. Em breve farei mais para disponibilizá-lo na loja.
Na verdade, esse foi o quarto teste que fiz, e o único aprovado pelo meu controle de qualidade. Aqui vão fotos dos reprovados. Teve até uma versão com chocolate chips da Callebaut!
Teste 1
Depois fui descobrir que 300g de líquor de cacau era muitíssimo excessivo!
Derreter o cacau junto com os óleos não foi uma boa ideia.
Parecia sabonete de carvão, de tão preto 😀
Teste 2
Fui diminuindo a quantidade do cacau…
Óleo de babaçu aromatizado com favas de baunilha (os pontinos pretos são suas sementes).
Esses são os chocolate chips da Callebaut.
Só que com a temperatura da massa do sabonete a mais de 40 graus, é claro que derreteram 😦
Feinho, né?
Teste 3
Novamente as favas de baunilha ficaram uma noite inteira no óleo de babaçu, aromatizando-o.
O líquor foi derretido separado e adicionado só no final, mas ainda assim, não ficou bom. A quantidade ainda era grande demais.